Os Maias - breves análises

1.      Dâmaso Salcede é filho de um agiota, membro da elite portuguesa que admira muito Carlos da Maia e o copia em tudo, chega a ser obsessivo. É deslumbrado por tudo que é estrangeiro. Faz-se de corajoso e forte, mas na verdade é fraco, covarde, mentiroso e roliço (baixo, gordo e bochechudo), portanto fornece alguns momentos cômicos, como quando ele tenta tomar lições de esgrima no Ramalhete. O que importa a Dâmaso é ser “chic a valer”, embora não tivesse elegância. Diz ser muito bom com as mulheres, todas, segundo ele, o querem, e se gaba disso. Chega até a perguntar a Carlos se precisava de ajuda com as mulheres. Foi apresentado a Carlos no jantar do Hotel Central. Dâmaso está como acompanhante dos Castro Gomes em Lisboa e tinha intenção de divertir-se com Maria Eduarda, “a brasileira” até então. Carlos pede a Dâmaso que o apresente aos Castro Gomes, porém não dá certo, então ele decide ir para Sintra, pois fica sabendo que Dâmaso está por lá com a brasileira, mas não consegue vê-la. Certo dia, Dâmaso pede a Carlos que vá consultar a filha de Maria, Rosa, pois o médico inglês não pôde ir, e dessa forma Carlos é inserido no quarto de hotel dela e daí para frente começa a ser desenvolvida a paixão entre os dois. Ao ver Carlos e Maria juntos, morre de ciúmes e decide publicar uma carta falando de um caso entre os dois. Castro Gomes fica sabendo dos boatos, também por Dâmaso (anonimamente), e envia uma carta a Carlos falando do passado, conhecido por ele, de Maria Eduarda e Carlos vai confrontá-la. Carlos intimida Dâmaso por falar mal dele e de Maria. Na intenção de parar o falatório sobre o caso, Ega obriga Dâmaso a escrever um artigo onde fala que foi um mal entendido e que tinha problemas com bebida, o que era de família. Ao ler esse artigo publicado na Corneta do Diabo, o tio de Dâmaso fica indignado e, ao confrontá-lo, Dâmaso joga toda culpa em Ega. Guimarães, o tio de Dâmaso, pede ao Alencar para ser apresentado ao Ega no Sarau para confrontá-lo, mas acabaram por se entenderem. Ele (Guimarães) tinha em sua posse uma caixa que pertencia a Maria Monforte, por meio da qual se revela a verdadeira história de Maria Eduarda, e entrega a caixa a Ega. Sem saber o que fazer, Ega conta a Vilaça, que conta a Carlos, que conta ao avô, que confirma a história. Portanto, Dâmaso Salcede é de extrema importância no romance, pois por meio dele, Carlos é inserido no quarto de Maria e por causa de sua carta, Carlos descobre o suposto passado dela e graças ao seu artigo, ele descobre o verdadeiro passado. Dâmaso representa a elite depravada de Portugal, que quer ser “chic” e corajosa, mas na verdade não passa de uma elite que quer ter os mesmos padrões dos desenvolvidos, mas apenas imita e não é de verdade.


2.      ” Os Maias”, de Eça de Queiroz pode ser considerado como dois romances em um: o primeiro focado na trama entre Carlos e Maria da Maia e o segundo focado na decadência portuguesa. O episódio do capítulo 10 é focado no segundo romance. Nesse capítulo, Eça constrói a imagem da melancolia de um povo que quer ser chique, semelhante a outros países europeus, como Paris, mas não consegue, é um povo imitador, medíocre. A estilística do capítulo também contribui para a construção dessa imagem de Portugal, como a escolha de advérbios que ajudam a conferir uma corrida grotesca. O capítulo se passa em uma corrida de cavalos, toda elite portuguesa estava reunida. Todos estavam arrumados e tentando se portar como pessoas elegantes, mas o lugar era precário, com arquibancadas mal construídas, os criados eram sujos, com dedos de cerveja, as barras dos vestidos das mulheres estavam sujos de lama e houve até um rebuliço no evento. Em um trecho em que o narrador está falando das mulheres mais ricas e belas de Portugal, é citado: “Debruçadas no rebanho, numa fila muda, olhando vagamente, como duma janela em dia de procissão, estavam ali todas as senhoras que vem do high-life dos jornais, as dos camarotes de S. Carlos, as das terças-feiras dos Gouvarinhos. A maior parte tinha vestidos sérios de missa. Aqui e além um desses grandes chapéus em plumados à Gainsborough, que estão se começam a usar, carregava duma sombra maior o tom trigueiro de uma miúda. E na luz franca da tarde, no grande ar da colina descoberta, as peles apareciam murchas, gastas, moles, com um baço de pó de arroz. [...] ─ É um canteiro de camélias meladas – [...]” (Os Maias, p.299). Nesse trecho é descrito a depravação das mulheres na elite portuguesa. Na corrida, o cavalo favorito é Rabino, e os homens apostam mais nele, porém, Carlos decide divertir-se a oposta no perdedor, Minhoto. Para a surpresa de todos, Minhoto é o vencedor e Carlos ainda consegue ganhar dinheiro em troca, porém Baviera fala: “É como diz o ditado: Sorte no jogo...”, fazendo menção que Carlos teria azar no amor, uma predição para o 1° livro do romance, assim como a conversa que Carlos tem no final com Craft, onde ele fala que “a gente nunca sabe se o que lhe sucede é, em definitivo, bom ou mau”, e Craft responde: “ordinariamente é mau”, outro indício da tragédia que virá.


3.      O capítulo 6 tem como tema central o Jantar no Hotel Central, onde se discute a decadência de Portugal e também o naturalismo, o que causa uma briga entre Alencar (representando o Romantismo) e Ega (representando o Naturalismo e o Realismo). É a primeira vez que Carlos é apresentado a Dâmaso. Nesse capítulo há muitos indícios do destino de Carlos e ele pensava que sua honra não dependia dos impulsos falsos e torpes de sua mãe, no entanto não é isso que se concretiza. Em relação ao indício sanguíneo entre Carlos e Maria Eduarda, têm-se no final uma menção à Juno: deusa do casamento, esposa de Zeus (seu irmão), “... mais alta que uma criatura humana, caminhando sobre nuvens, com um grande ar de Juno que remonta ao Olimpo...”. Nisso, já podemos prever a relação incestuosa entre Carlos e Maria. Juno também é mencionada no 2° capítulo relacionada à Maria Monforte: “com radiante figura de Juno loura”. No jantar na casa dos Gouvarinhos, Carlos fala que Maria é “tão portuguesa como eu”, o que também dá para inferir uma relação sanguínea. Porém os três episódios principais são: a primeira visita de Carlos ao quarto de Maria Eduarda, a primeira vez que ela visita a Toca e quando Maria vai jantar no Ramalhete. O jantar acontece no 4° capítulo da 2° parte. Maria Eduarda havia pedido para conhecer o Ramalhete e na ausência de Afonso, Carlos a convida. Ela é a primeira mulher a entrar no Ramalhete, dado importante, porque na verdade, o Ramalhete também é dela, por ser uma Maia. Ela também para Carlos que ele parece com sua mãe, mas na verdade é a mesma mãe. Na mesa, os criados trazem as travessas de arroz doce e o dela estava com as iniciais “M.E.”, por pensar que fazia menção ao nome dela, Maria Eduarda acha que é um gesto de carinho de Carlos para com ela, mas são as iniciais da avó, Maria Eduarda Runa. Antes de ir embora ela olhou para o quadro de Pedro que tinha “olhos melancólicos”, o que prevê a melancolia que se seguirá e era como se ele fosse uma testemunha muda de tudo que estava acontecendo. O capítulo 3 da segunda parte é muito importante, pois é primeira consumação do incesto. Primeiramente é discutido o nome do lugar onde seria o “ninho de amor” do casal, e fica decidido que se chamará Toca, um nome que remete uma relação animalesca, pois são os animais que vivem em toca. Na Toca, tinha um quadro de S. João Batista, que se refere à história bíblica dele. João Batista foi morto sob o reinado de Herodes e sua esposa Herodias que tinham uma relação incestuosa. A Bíblia diz que Herodias era casada com Filipe e o deixou para viver com seu irmão, Herodes. Então ela era cunhada do rei Herodes. Cometeu, assim, pecado segundo os mandamentos da Lei de Deus. Também se tem no episódio uma insistência pela cor vermelha que ao mesmo tempo em que pode representar uma paixão quente e impetuosa, também pode representar morte e sangue. Por fim, na visita ao quarto de Maria Eduarda (capítulo 9 da primeira parte), quando Carlos vai cuidar de Rosa, ele reflete nas semelhanças dos nomes dos dois (Carlos Eduarda e Maria Eduarda) e até pensa que é um sinal bom, como se o destino estivesse conspirando para que ficassem juntos, mas na verdade é porque são irmãos. O mordomo de Maria também foi mordomo no Ramalhete, portanto ele nunca parou de servir os Maias. Carlos também vê três lírios murchos dentro de um vaso, que o representa os três Maias restantes que estavam começando a desmoronar.


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