Cristã vegana - parte III

Em relação aos questionamentos que eu recebi de cristãos: “De onde vem o conceito da crueldade contra os animais? Por que precisamos considerar os animais no mesmo patamar que os seres humanos?” e a pergunta para “botar lenha na fogueira” que é: “Se Deus te mandasse matar um animal, você o consideraria cruel? Por quê?”. A primeira: crueldade é agir sem clemência ou piedade isso serve para os humanos, animais ou mundo. Nos versículos que eu citei nas partes anteriores alguns já demostram que seria um ato cruel matar animais, assim como é matar um humano ou destruir a natureza, mas tentar tirar a crueldade desses atos só porque em certo momento da história eles foram permitidos não significa que eles deixaram de ser cruéis. É a questão da escravidão que eu comentei, é cruel hoje, era cruel antes, mas por causa da dureza do coração do homem Deus permitiu com muitas ressalvas para que o escravo também tivesse direitos. A segunda: Essa pergunta é subjetiva. Em que sentidos estamos falando? Se for no sentido de criatura de Deus todos estamos. Se for no sentido de sentir alegria ou tristeza também estamos. No sistema reprodutivo temos semelhanças e diferenças, portanto não estamos. Se estivermos pensando na importância no reino espiritual não estamos, pois somente nós podemos ser templos do Espírito. Portanto, não temos que colocar os animais no mesmo patamar que os seres humanos, somente reconhecer que eles são criaturas de Deus e têm sentimentos e já é o suficiente, eles devem ser cuidados e preservados assim como toda a criação. A da lenha na fogueira: uma pergunta injusta porque Deus é o que Ele é não importa o que eu considero Dele ou não. Primeiramente isso é bem difícil de acontecer até porque não tem razão para um animal ser sacrificado hoje e os animais também têm direitos por lei, então também entra na questão do cristão ser exemplo e dar bom testemunho. Mas se por um acaso isso fosse pedido eu consideraria o ato cruel, obedeceria assim como Abraão obedeceu. Não acho que Deus pediria isso pelo que eu entendo da palavra Dele e também porque Ele conhece o meu coração. 

Sobre a passagem bíblica que foi trazida para argumento: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; Porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças. Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada” 1 Timóteo 4:1-5. Para mim, esse texto não está falando contra o vegetarianismo (só para lembrar que vegetarianismo é uma dieta baseada em vegetais, as outras nomenclaturas são usadas para pessoas que estão em transição ou usadas erroneamente mesmo. Veganismo é quando estendemos para além da dieta e excluímos roupas, produtos, objetos, etc., de origem animal), até porque Deus não criou os animais para serem alimentos como já explanei. Agora, se está associando o veganismo a uma “doutrina de demônios”, primeiramente que não tem fundamento e falarei disso melhor quando estiver colocando meus pensamentos sobre um vídeo que recebi e, segundo, o inimigo veio para matar, roubar e destruir, com o veganismo não se mata animais, diminuiu o risco de morte por contaminação de alimento, não se rouba a liberdade e a saúde de nenhum animal ou humano, diminui a destruição ambiental, revigora nosso corpo e aumenta a produção de serotonina que ajuda a prevenir doenças mentais, desânimo e tristeza e com mais ânimo se têm mais vigor e clareza para adorar a Deus, ler a bíblia, orar etc. Então realmente não sei como isso pode estar associado a alguém que quer nos destruir e matar. 

Em relação ao vídeo que recebi para argumentar contra o veganismo (95 - Agenda Vegana de Débora G. Barbosa): Eu sou incapaz de dizer o tamanho do nojo que eu senti desse vídeo. Ela já começa errado não sabendo ao certo o que é veganismo e vegetarianismo, ela podia ao menos ter pesquisado melhor no próprio google. Já expliquei os dois no parágrafo acima. Depois ela fala que a mídia vem "puxando" direto o veganismo e eu realmente queria ver o canal que ela vê porque o que eu mais vejo na televisão é propaganda de carne, hambúrguer, churrascos, todos os derivados do leite, médicos patrocinados por essas indústrias dizendo que essas coisas fazem bem para saúde e por aí vai. Sem contar o encobrimento de descobertas que afetariam negativamente essas indústrias. O pouco que eu vi falando de vegetarianismo ou veganismo foi ou pra criticar, ou para fazer piada, ou pra explicar o que é e falar que é bonito, mas nunca promovendo. Depois do episódio da queimada da Amazônia, alguns artistas se levantaram em favor da causa, mas nem se compara ao tanto de artistas em propagandas de produtos lácteos ou carnistas. O que está crescendo é a conscientização das pessoas em relação ao modo de produção, à manipulação dessas indústrias na política, na saúde e na própria mídia, da destruição ambiental que isso causa, do sofrimento dos animais, de saber que não é necessário de proteína animal para viver bem e com saúde (algo que ela também deveria ter pesquisado melhor porque o tanto de bobagens que saiu sobre esse assunto foram impressionantemente decepcionantes), do tanto de doenças que esses produtos podem trazer etc. Depois ela diz que a Alemanha, estados unidos e reino unido são os principais produtores de comida vegana, mas ela deve estar falando de comida vegana processada, porque se for pensar em alimentos naturais como soja, milho, café, laranja, maça, banana, grãos, verduras, frutas, legumes, cereais, tubérculos, etc., certamente o Brasil estaria numa posição maior que a desses países. (Todas as fontes dos meus argumentos tanto desse vídeo, quanto do texto inteiro se já não coloquei no meio dele, deixarei no final). Então, ela comenta de novo que a mídia “puxa” o veganismo, mas tirando os documentários sobre alimentação, saúde e crueldade animal dos quais alguns eu falei, de novo, não vejo tudo isso que ela tem visto não, aliás até gostaria. E mesmo esses documentários não são muito divulgados por falta de patrocínio e por encobrimento de indústrias de produtos animais. Quem assiste mais esses documentários e filmes são os próprios vegetarianos e veganos que estão sempre tentado se atualizar sobre as crueldades dessa indústria porque eles se importam em conhecer essa verdade. 

Então ela comenta das outras “bandeiras” que têm sido levantadas como a do feminismo e a dos lgbt+ e como está tudo relacionado, mas qual é a prova de que está tudo relacionado? Porque pegar uma imagem quem tem “vegan” nas cores lgbt+ e falar que é por isso que está relacionado é bem ruim, até porque a maioria dos lgbt+ são carnistas se formos analisar a porcentagem de lgbt+ e a porcentagem de veganos. Não tem nenhuma cláusula da sociedade vegetariana ou vegana e nem da lgbt+ que relacione as duas coisas e se ela conhecesse um pouco melhor veria que não faz sentido. Da mesma forma sobre o feminismo. Só porque existe um grupo de veganos (bem pequeno) dentro dos grupos lgbt+ e feministas não significa que as duas coisas estão associadas, senão eu poderia falar que os carnistas estão associados aos lbgt+ e às feministas também, já que compõem a maioria dentro do grupo. A mesma coisa acontece quando ela fala de canibalismo, de novo, não tem nada dentro da sociedade vegana ou vegetariana que fala que a gente pode ou deve comer outros humanos, não faz sentido algum. Até mesmo da prática de comer placenta, só porque algumas veganas famosas divulgaram que comeram a própria placenta não significa que isso está diretamente associado ao veganismo, até porque algumas tribos indígenas (carnistas) também já fizeram e existem outras mulheres que aderem essa prática comendo ou não produtos de origem animal. Não tem nada dentro da sociedade vegana que fale que devemos comer placenta, a maioria dos veganos não participa dessa prática, mas a placenta é da própria pessoa e diz respeito a ela mesma, então se ela quer comer, é escolha dela, pois não está ferindo nenhuma outra pessoa ou animal. E quando ela fala de redução populacional, até hoje nunca vi nenhum vegano falando disso, nem em blogs, nem em vídeos, nem nos documentários, se você viu pode me mostrar. Existem veganos que querem ter muitos filhos e outros que não querem ter nenhum, assim como é no meio dos carnistas. O que alertamos é justamente o contrário: se continuarmos consumindo carne e produtos animais como estamos, muito em breve será insustentável alimentar o mundo (como já é, porque uma grande parte da produção de cereais vai para a pecuária e com esse alimento poderíamos alimentar a população faminta no mundo – isso está bem documentado no documentário cowspiracy) ou até mesmo habitar no mundo já que a pecuária polui mais o ambiente que todos os veículos de todos as partes do mundo (também no documentário cowspiracy, mais fontes colocarei no final). 

Ela também comenta que a soja está associada com a feminização masculina quando já existem diversos estudos que provam que a soja não afeta em nada nesse aspecto, até porque o tipo de estrogênio que a soja é capaz de produzir não é o mesmo hormônio feminino que conhecemos (deixarei fontes abaixo, mas está bem detalhado no documentário what the health). Depois ela fala que “a maioria dos veganos que ela conhece” tem atraso cognitivo e honestamente isso não é um argumento porque primeiro que não tem fontes, segundo que se basear em “algumas” pessoas que você conhece não diz respeito a todas as outras que você não conhece, porque nenhum vegano que eu conheço ou sigo tem retraso mental, por exemplo. Se basear em um ou outro vegano mais lento que possa ter conhecido, até porque ela não deve conhecer muitos por conta do seu posicionamento, não diz nada a respeito de todo um grupo espalhado pelo mundo, pois existem pessoas com retraso mental sendo carnistas ou veganas, assim como existem pessoas inteligentes sendo carnistas ou veganas. Sou vegana há um ano e não afetou negativamente minha cognição, pelo contrário, estou mais focada e bem disposta, minha concentração aumentou, minhas dores de cabeça constantes pararam, não me esqueci de nenhum conteúdo que aprendi nas universidades e não sinto nenhuma dificuldade em refletir em assuntos acadêmicos, emocionais, bíblicos etc. Sem contar sobre as alergias e rinites que pararam e as inflamações sejam internas ou por espinhas que também só aconteceria em casos muito específicos e que antes eram frequentes. Usar a bíblia para defender que não consumir animais é errado também não faz sentido devido a tudo que eu já mostrei pela própria bíblia.

Ela fala também que se você quer ganhar massa muscular é preciso consumir proteína animal e nisso eu tenho até pena dela porque existem MUITOS estudos que provam que não e muitos outros que garantem que uma dieta vegetariana (lembre-se sempre do conceito real de vegetarianismo) auxilia na saúde física e muscular. Eu pude testar isso no meu corpo. Antes de adotar uma dieta vegetariana, não conseguia emagrecer ou fortalecer direito os meus músculos devido ao desserviço que a carne e o leite fazem no organismo, ao adotar a dieta meu corpo mudou completamente e hoje consigo muito mais massa magra do que antes. É claro que cada corpo é diferente, mas uma dieta vegetariana não é ruim para nenhum atleta, pelo contrário (recomendo o documentário dieta dos gladiadores).

Por fim, o que essa moça está fazendo é propagar notícias falsas e mentirosas sobre o veganismo. Acreditar numa conspiração mundial e nessa agenda global que ela fala, tudo bem, é uma escolha dela, mas se for para incluir o veganismo nisso, que seja ao menos falando a verdade. 

Outros vídeos também foram apresentados para refutar o veganismo como o do Rev. Ageu Magalhães que fala sobre a “terra que mana leite e mel”: Primeiro que numa terra que mana leite e mel não seríamos obrigados a comer deles, teríamos escolhas. E também isso poderia ser apenas uma expressão de abundância: uma terra em que tudo seria farto, com árvores altas para que as abelhas produzissem seus favos, com mulheres férteis que dariam à luz muitos filhos, assim como os animais. A bíblia está cheia de metáforas, por que essa também não pode ser uma? Também é dito que “veganismo fala que vida é sagrada”: não fala, fala que toda vida é vida e merece seu devido respeito como direito. Não é uma questão religiosa, é uma questão de ética e moral. De consciência. E depois vem o famoso entre os crentes: “veganismo é panteísta”. O veganismo é diferente de uma religião, não está associado ao espiritual e existe há séculos em diversos países com diversas culturas e pensamentos religiosos, provenientes de diversos motivos, portanto não se conecta com apenas uma religião, na verdade, com nenhuma, pois seria como dizer que consumir produtos animais está ligado às religiões só porque muitas delas falam que você pode ou deve comer animais. Não faz sentido, pois existem veganos panteístas, mas também existem católicos, protestantes, espiritas, adventistas, budistas, hinduístas, testemunhas de Jeová e por aí vai. Assim como comentado anteriormente, atribuir algo a um grupo só porque parte dele faz aquilo é no mínimo injusto, pois exclui todas as outras partes que não fazem. O veganismo não começou no panteísmo, se formos ver a origem na verdade começou no Éden, então não concordo com essa afirmação.

Sobre o vídeo do Augustus Nicodemus "Cristão e Vegetariano?", ele mesmo fala que precisamos nos respeitar mutuamente. E esse é o ponto. 

Conclusões: 

O Brasil tem forte consumo de carne por cultura: temos grande espaço para pastagem, por isso a carne fica barata (na verdade se exclui o preço de toda a água e cereais que é necessário para produzi-la, por isso é barata) e é base sólida de nossas rotinas alimentares. Mas não é assim em todo lugar. Em muitos países da Europa, que são pequenos, a carne é um alimento caríssimo e a prática vegetariana é extremamente antiga e comum. Inclusive na Síria e na Índia, onde a inclusão do ingrediente ‘carne’ ocorre apenas em situações especiais ou presente na mesa de ricos, apenas. Todos estes cidadãos são saudáveis e as datas destes costumes não é a data em que as teorias conspiratórias da Nova Era nascem nem apontam que ocorreria, é muito anterior. Portanto, a prática vegetariana (lembrando do verdadeiro significado de vegetarianismo) ao meu ver, não está ligada ao apocalipse. Os costumes americanos estão chegando na região mediterrânea e o estímulo ao consumo de carne tem sido grande, causando alterações nos costumes de muitos povos, mas originalmente estas regiões não possuíam o costume. 

Hoje nós possuímos a nutrição. O que não existia anos atrás e nos permite ter acesso a como fazer para nos alimentarmos sem os animais e continuarmos saudáveis. Antes isso não era possível, e se hoje é, nada deveria nos impedir de termos livre arbítrio a esse respeito. Hoje é sabido que não precisamos de animais para viver bem e saudáveis, então porque continuar dizimando bilhões de animais por ano sem necessidade? Sem contar dos estragos absurdos e irreversíveis no meio-ambiente. Nós só temos esse planeta para vivermos e depois dele, para nós cristãos pelo menos, é o céu. Mas é querer muito cuidar desse planeta para que as próximas gerações consigam viver aqui? É tão errado assim querer diminuir a destruição do nosso lar terreno? É tão antibíblico assim eu querer cuidar e preservar a criação de Deus?  Sem contar as inúmeras doenças que aparecem em humanos devido ao consumo de animais! É ruim eu querer cuidar da minha saúde? 

Vivo numa sociedade moderna, industrializada, cientificamente capaz de me fornecer dados e alimentos para que eu viva sem carne: temos nutrição, varejos, hortas, geladeira, internet, acesso a exames de sangue, contagens de vitaminas, consultas, etc. o que me permite ser saudável sem a carne, leite ou ovos. Também não precisamos de pele ou pelo animal para nos vestirmos, pois temos uma variedade imensa de tecidos que nos cobrem e nos mantêm aquecidos. Não estamos tratando de uma situação em que esta decisão me colocaria em risco, temos vários exemplos de sucesso e de comunidades que se auxiliam a continuar saudáveis e felizes após a decisão da adesão da dieta vegetariana e um estilo de vida vegano. Não preciso matar animais para viver e também não sou obrigada a fazê-lo. Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Ele não me proibiu a adotar o vegetarianismo e a não consumir nenhum outro produto de origem animal, portanto sou livre para fazê-lo.

Documentários:

Cowspiracy
What the health
Dieta dos Gladiadores
Terráqueos
A carne é fraca (esse é brasileiro)
Forks over knives
Speciesism
Blackfish
Simple Raw
Vegucated
The cove
Você sabe tudo sobre o leite?
Os fantasmas em nossa máquina
Food choices

*Dentro desses documentários tem muitas fontes que eu usei nos textos e alguns deles têm sites nos quais os links para as fontes estão disponíveis.

Youtube:

Vegflix
Vegano Vitor
Rafa Rocha
VegetariRango
Fabio Chaves
Fala Vegan
Vídeos sobre veganismo do Ted Talks

Sites:

Portal vista-se
Sites oficiais da sociedade vegetariana e vegana
Sites dos documentários Cowspiracy e What the health

Todos esses documentários, canais e sites estão cheios de estudos e fontes verificadas sobre o assunto. Recomendo a busca.