Almoço conturbado

     Em uma mesa de um restaurante qualquer eu estava tendo uma boníssima refeição. Meu paladar se deleitava com todos os sabores que lhe eram oferecidos pelos garçons que me serviam. 
     Primeiro veio uma picanha malpassada, que por sinal estava ótima, uma verdadeira obra prima. O sangue ainda escorria daquela bela peça artística preparada por um habilidoso chef. Logo depois, uma maminha na chapa que estava uma beleza. Que sabor! Quem diria que um boi poderia ser tão saboroso?! Seguindo o almoço, me serviram um delicioso baby beef. Estupendo! Que tempero! 
     Meu estômago me implorava para parar, mas minha boca ansiava por mais. Algumas carnes depois e eu logo pedi a conta. Mas não esqueci de agradecer o chef por aquela refeição memorável. 
     Saindo do restaurante, fui até meu carro. Um homem estava de pé na porta, segurando uma placa com os dizeres: “E ai? Gostou do almoço necrófago? ”. Era óbvio que era mais um daqueles vegetarianos que se consideram os seres supremos por não comerem carne. Fui confrontá-lo. Perguntei-lhe se ele não tinha nada melhor para fazer ao invés de ficar atrapalhando a refeição alheia. Ele ficou bravo e disse que nada era melhor do que ajudar a salvar animais indefesos – típico discurso de gente desse tipo. Logo argumentei, apontando que é esse animal indefeso que serve para alimentar as pessoas, e que se ele continuasse com o movimento e os animais parassem de ser consumidos, ele seria responsável por aumentar a fome no mundo. Depois, deixei-o falando sozinho.
     No caminho para meu carro, encontrei mais um daqueles flanelinhas. Ele estava pedindo dinheiro para “comprar comida” para sua “família”. Duvido! Devia era estar querendo ajuda para comprar pinga. Não dei um centavo para aquele homem.
     Dirigindo para casa, acabei passando por cima de um animal. Era um cachorro. Que dó dele. Estava lá, deitado, bem no meio da rua. O sangue ainda escorria daquela terrível obra do destino. Fui ajudá-lo, odeio crueldade animal. Levantei o cachorro e coloquei ele em cima do meu banco de couro, no carro. Levei-o o mais rápido possível para a clínica veterinária mais próxima. 
     Depois disso, resolvi ir direto para casa, tocar meu lindo piano. Fazer aquelas teclas de marfim martelarem as mais belas melodias para me esquecer do que aconteceu. Chegando no portão, entrei com o carro. Estacionei ele na garagem e segui para a sala. Fiquei algumas horas ensaiando. Me senti então meio entediado, e fui ler uma revista que estava jogada em cima da mesa.
     A revista falava sobre diversos animais em extinção. Não sei como o homem é capaz de extinguir animais tão indefesos. Na outra página, pude perceber que na verdade isso era um meio de nos garantir comida, já que eram as grandes fazendas pecuárias que ocupavam os locais que esses animais habitavam. Sendo assim, era lógico que isso era necessário. Mais algumas páginas e vi que na Índia, a vaca é um ser sagrado, e que muitos indianos se sentiam injuriados os ver outros comendo-a. Achei meio difícil de entender isso. Mas continuei, até me deparar com uma parte em que falava que na China se comiam cachorros. Que horror! Quem seria capaz de tal atrocidade? Nunca na minha vida que eu comeria um pobre de um cachorro. Imagine, um pobre animal indefeso.
     Eu então decidi deixar a revista de lado, e fui deitar um pouco para deixar aquele dia para trás.

- Autor: Thiago Julio 

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