Fantasma

Olho a tela da celular: 3h28. Fecho os olhos mais uma vez. Mergulho a cabeça no travesseiro por uns segundos até perder o ar. A respiração que antes estava tranquila, agora é entrecortada e ritmada num compasso acelerado. Solto o ar de uma vez. Abro bem os olhos para o teto, mas não consigo realmente encará-lo já que as luzes estão apagadas. Estou emergida em completa escuridão. Já devia ter me acostumado. Já faz um mês que passo noites em claro, mas de alguma forma, nunca são iguais. Ouço um som estranho... Um som como de tambor. Tum tum tum tum. Me encolho na cama, me cubro por completo, prendo a respiração. O barulho aumenta. TUM TUM TUM TUM. Aperto os olhos e a boca, cerro os punhos, fico completamente imóvel. TUMTUMTUMTUMTUM. Tomo coragem e de olhos fechados acendo a luz. Abro os olhos. Nada. Não tem ninguém no quarto além de mim. Suspiro mas não de alívio, meu corpo todo tremia. O barulho vinha de dentro de mim. Volto para a cama. Deixo o abajur aceso. 3h30 o celular me diz. Me viro para o lado vazio da cama. Minha mão desliza pelo lençol perfeitamente arrumado. Bagunço a perfeição amassando entre os meus dedos o máximo de tecido que consigo, enquanto gotas salgadas escorrem pelo meu rosto. Abafo um grito no travesseiro inabitado. Silêncio. "Encare seus fantasmas", meu pai costumava dizer. Sento na cama, pego o celular, abro na pasta de fotos excluídas. Encaro nossa primeira foto juntos, felicidade transparecendo de nossos rostos. Uma lágrima pinga na tela. Meu fantasma tem nome, sobrenome, mel nos olhos, cabelos e corpo, roupas velhas e largas que de certa forma ficavam perfeitas em mim, mãos que seguravam minha cintura e braços que a contornavam enquanto minha cabeça pousava em seu ombro. Quem dera fosse ele que viesse me visitar, mas meu fantasma foi embora me deixando apenas assombração. 

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